sexta-feira, 2 de maio de 2014

Telexfree: líderes agora promovem de palmito a colchão, nova "onda" de Pirâmides vem ai.

Reprodução
Inocencio Reis, o Pelé Reis ao adquirir sua Ferrari, um ano após entrar para a Telexfree
Conhecido como o vendedor de espetinhos que, em um ano, foi transformado pela Telexfreeno proprietário de uma Ferrari 360 Spider, Pelé Reis se despede.
“Agradeço a todos que me acompanharam no projeto Telexfree”, diz em texto publicado em uma rede social. “Pelé Reis, a partir de hoje [23 de abril], estará iniciando um novo projeto naBBom."
A Telexfree teve as contas congeladas pelas Justiça do Brasil, em 2013, e dos Estados Unidos, no último dia 15, por acusação de que o negócio é uma gigantesca pirâmide financeira disfarçada de marketing multinível.
Antes de os bloqueios ocorrerem, Pelé e outros líderes – como são chamados os grandes divulgadores do negócio – fizeram fortuna na empresa. Em dezembro de 2012, durante um evento, ele recebeu um cheque simbólico R$ 3,1 milhões.
Com a Telexfree bloqueada, esses líderes passaram a promover outros negócios que, da mesma forma, apresentam-se como oportunidades de se ganhar milhares ou milhões de reais, além de carros de luxo com o que é apresentado como marketing multinível.
Nova empresa apoiada por Pelé também é acusada de ser pirâmide
Com uma liberação parcial obtida em novembro passado, o dono da empresa, João Francisco de Paulo, previu lucros ainda maiores para quem entrasse no negócio.
“Nosso negócio é lícito, praticado sob os parâmetros legais, reconhecidamente pelo Poder Judiciário", afirma João Francisco de Paulo, em nota à reportagem. "Entendemos que é salutar, para a opinião pública, saber que o nosso negócio está atraindo, inclusive, aqueles que outrora mantinham práticas diversas, advindos de outras empresas.” 
Marketing multinível de árvores e palmitos
No mesmo evento em que Pelé Reis ganhou R$ 3,1 milhões, o divulgador Janio Ariel Castagno Santos levou R$ 3,9 milhões da Telexfree. Hoje, promove a Luvre, que atua no mercado de venda de palmito pupunha e madeira. Para captar "eco-empreendedores", expressão utilizada pelos participantes, a empresa divulga que eles podem ganhar bônus de até R$ 100 mil – por dia –, e prêmios que vão de viagens internacionais a um jatinho.
“Não é simples um vendedor (eco-empreendedor) alcançar esses prêmios. Ele tem que trabalhar muito, ou seja, efetuar estratégias de venda de produto que possam premiá-lo”, ressalta um porta-voz da Luvre, em nota.
Sobre a participação de Janio Ariel, a nota alega que o projeto não tem como bloquear “a entrada de profissionais do mercado, mesmo que eles venham de empresas que sofreram bloqueio por terem sido consideradas pirâmides financeiras”, e que a Luvre “possui um plano de marketing amparado em análises técnicas e jurídicas.
Negócios incluem de moeda virtual a chás.
José Marcus França Bonfim, que diz ter levado ao menos 57 mil pessoas para a Telexfree, agora atrai o público para aPaymony, de mineração de moedas virtuais – um concorrente do Bitcoin.
“Hoje daria uma média de US$ 1.250 (R$ 2,8 mil) por mês para você apenas deixar o seu computador seis horas apenas trabalhando todo dia”, explica França, em vídeo disponibilizado na internet.  Em bônus, a Paymony promete  pagar até US$ 25 mil, ou R$ 55,9 mil, por dia.
Misael Martins da Silva – que portava um cheque simbólico de R$ 2,9 milhões naquele evento da Telexfree – partiu para a One Thor. Baseada em Hong Kong, a empresa se apresenta como um marketing multinível de chás, colchões, serviços eletrônicos – entre outras coisas – e promete aos participantes prêmios de até US$ 1,2 milhão (R$ 2,7 milhão) em 12 meses.
“Nosso projeto é totalmente diferente da Telexfree, em que pese sermos uma empresa de marketing multinível”, informou a empresa, em nota. “A Telexfree não tinha um produto ‘viável’ (...). A One thor tem produtos físicos, que são entregues ao consumidor no momento da entrada deste em nossa rede de consumo.”
Pelé Reis, Misael Martins e Janio Ariel não responderam aos contatos feitos pela reportagem por e-mail e por meio de uma rede social. A Paymony e a Telexfree também não retornaram a mensagem enviada por e-mail.
Pelé Reis recebe cheque simbólico de R$ 3 milhões da Telexfree em 2012. Foto: ReproduçãoEm abril de 2014, com as contas da Telexfree bloqueadas no Brasil e nos EUA, Pelé anuncia apoio à BBom. Foto: ReproduçãoFerrari com a placa da BBom: após liberação parcial pela Justiça, dono promete retornos ainda maiores para participantes. Foto: DivulgaçãoMarcus França recebe cheque simbólico de R$ 3 milhões da Telexfree em 2012. Foto: ReproduçãoApós bloqueio da Telexfree, Marcus França anuncia apoio à Paymony, de mineração de moedas virtuais. Foto: ReproduçãoPaymony: empresa informa que participante pode ganhar até US$ 25 mil por dia apenas em bônus. Foto: ReproduçãoMisael Martins recebe cheque simbólico de R$ 3 milhões da Telexfree em 2012. Foto: ReproduçãoApós bloqueio da Telexfree, Martins anuncia apoio à One Thor. Foto: ReproduçãoOne Thor: prêmios de até US$ 1,2 milhão (R$ 2,68 milhão) para quem participar do negócio. Foto: ReproduçãoJanio Ariel (à direita), líder da Telexfree, com Carlos Costa, diretor da empresa. Foto: Reprodução/FacebookApós o bloqueio da Telexfree, Janio Ariel declara apoio à Luvre. Foto: ReproduçãoLuvre: prêmios incluem imóvel, viagens, carros e até um avião. Foto: Reprodução

EUA lançam cadastro para 'vítimas' da Telexfree

Formulário, em inglês, pergunta valor investido e número de pacotes vendidos. Telexfree é pirâmide e arrecadou US$ 1,2 bi no mundo, dizem autoridades.



A Secretaria de Estado de Massachusetts, nos EUA, criou um cadastro para recolher informações de "vítimas" que investiram na Telexfree, acusada pelas autoridades norte-americanas de promover um esquema de pirâmide financeira.
A Justiça dos Estados Unidos determinou, na semana passada, o congelamento dos bens do grupo Telexfree. O pedido foi feito pela Securities and Exchange Commission (SEC), órgão equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira, para evitar a perda de recursos de investidores. O formulário, em inglês, está disponível no site da secretaria e pede a identificação do participante, a quantidade investida no negócio, o número de pacotes VoIP vendidos e informações sobre quem os convidou para participar da Telexfree.
Não está claro no site se o cadastro está aberto a brasileiros. Em contato com a secretaria de estado de Massachusetts,  não obtivemos resposta até a última atualização desta reportagem.
Bens congelados
Antes disso, a Secretaria de Estado de Massachusetts divulgou relatório de uma investigação que concluiu que a Telexfree é uma pirâmide financeira que arrecadou cerca de US$ 1,2 bilhão em todo o mundo. Na denúncia, as autoridades norte-americanas pediram o fim das atividades da empresa, a devolução dos lucros e o ressarcimento das perdas causadas aos investidores, chamados de "divulgadores".
O grupo Telexfree anunciou ter ingressado com um pedido de concordata no Tribunal de Falências do Distrito de Nevada, numa tentativa de reorganizar os negócios da empresa e garantir a continuidade das atividades.
As atividades da empresa no Brasil estão suspensas desde junho de 2013, por determinação da Justiça do Acre, por suspeita de pirâmide financeira. Em fevereiro, a Telexfree teve negado pela segunda vez seu pedido de recuperação judicial no Brasil.

Ministério Público investiga os maiores credores da Telexfree em Portugal


Só em Portugal havia havia mais de 40 mil contas. Desde a falência da empresa, a 15 de abril, os investidores portugueses perderam à volta de 50 milhões de euros neste esquema em pirâmide - dinheiro que o Sexta as 9 já tinha revelado que estaria a fugir ao controlo do fisco. Agora a autoridade tributária também está a investigar o caso. As primeiras averiguações vão ter lugar na Madeira, onde vivem três dos maiores credores internacionais da Telexfree.